segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Análise Financeira - Kindermann (2017-2019)

Aproveitando o encerramento do campeonato brasileiro feminino de 2020, em que o Corinthians sagrou-se campeão e o Avaí/Kindermann ficou em segundo lugar, aproveitamos para trazer alguns aspectos econômicos divulgados pelo Kindermann no período 2017-2019. Destaca-se que a Sociedade Esportiva Kindermann, no ano de 2019, firmou uma parceria com o Avaí Futebol Clube pelo período de dois anos (2019-2020). Em 2019, a equipe chegou até as semifinais, sendo eliminada pela Ferroviária-SP. Já no ano de 2020 a equipe disputou à final, ficando em segundo lugar. Entretanto, cabe ressaltar que a equipe de caçador possui tradição no futebol feminino, tendo alcançado bons desempenhos anteriores a esta parceria. 

Os dados econômico-financeiros estão disponíveis no site da equipe para os anos de 2019 e 2018 (2017 disponível neste relatório também), sendo este período objeto da análise nesta postagem. Cabe salientar que a análise realizada não se refere aos investimentos oriundos da parceria com o Avaí, mas sim das informações divulgadas pelo Kindermann. Parte da receita da equipe de caçador em 2019 é oriunda da parceria com o Avaí, mas destaca-se que nos anos de 2017 e 2018 não havia esta parceria e mesmo em 2019 outras receitas compõem a receita total. 

Cabe ressaltar ainda que não é possível realizar uma análise com maior detalhamento em função do nível de divulgação do clube. Compreende-se tal situação, entretanto salienta-se que isso pode limitar as análises realizadas.

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Análise Horizontal

Nesta postagem traremos alguns conceitos de análise financeira, mais especificamente, a análise horizontal. Em postagem anterior, destacamos a importância da análise vertical.

Por meio da análise horizontal é possível identificar a evolução de algum item das demonstrações contábeis ao longo do tempo. A análise horizontal permite, portanto, responder as seguintes questões: A receita do meu clube evoluiu quanto de um ano para o outro? Qual foi o impacto, em termos monetários e percentuais da ascensão/queda de divisão do meu clube no campeonato brasileiro?

Traremos o exemplo de dois clubes: Goiás (subiu em 2018 para primeira divisão) e Paraná (caiu para a segunda divisão em 2018). Veremos o impacto de subir ou cair de divisão explorando aspectos da análise horizontal.

Acompanhe!

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Números que não batem #4: Botafogo e as contingências

Dando continuidade à série “Números que não batem”, hoje apresentamos o que foi encontrado nas demonstrações do Botafogo de Futebol e Regatas.

Ao se analisar as Demonstrações Financeiras do clube carioca, um item que apresenta divergências e prejudica a análise se refere às Provisões para Contingências. Seus efeitos podem repercutir no resultado (Demonstração do Resultado do Exercício) e na estrutura patrimonial (Balanço Patrimonial). Há que se ressaltar que provisões para contingências consistem nos processos pelos quais os clubes são julgados e a probabilidade de perda pela equipe é provável, sendo reconhecido como um passivo do clube, ainda que o processo não tenha sido finalizado. Quando a possibilidade de perda é possível, o referido item é reconhecido como um passivo contingente em notas explicativas. Quando da mudança de probabilidade possível para provável, a estimativa realizada reduz o resultado do exercício e aumenta o endividamento.

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Esporte como fenômeno sociocultural: O caso da WNBA

 



Mais presentes em nossas vidas, as questões socioculturais são mais debatidas por todos e no esporte não poderia ser diferente. Acompanhando a tendência mundial, os atletas vêm se posicionando cada vez mais sobre diversos temas, chamando a atenção do público em geral para temas de extrema relevância em nossa sociedade. 

Os atletas se posicionarem é um fato nobre e notável, pois eles são exemplos, principalmente para os jovens. O fato de eles estarem dando voz a problemas sociais, faz com que mais pessoas se sintam encorajadas a realmente mudar algo. Em 2018, Lebron James falou sobre a importância de se posicionar após ser criticado por falar de política por uma jornalista, que na oportunidade falou para ele parar de falar e somente jogar, então ele respondeu: "Definitivamente não vamos nos calar e só jogar. ... Quero dizer muito para a sociedade, muito para os jovens, muito para tantas crianças que sentem que não têm uma saída".

terça-feira, 29 de setembro de 2020

Números que não batem #3: Grêmio e as receitas

E hoje, no 3º capítulo de “Números que não batem”, apresentamos o que foi encontrado nas demonstrações do tricolor Gaúcho, Grêmio.

Ao se analisar as Demonstrações Financeiras do clube, um item que apresenta divergências e prejudica a análise se refere Receitas. Seus efeitos repercutem no resultado (Demonstração do Resultado do Exercício) e na estrutura patrimonial (Balanço Patrimonial). Ressalta-se que, pelo Regime de Competência, as receitas são reconhecidas na Contabilidade no período em que elas acontecem, independente se o clube recebeu ou não este valor. 

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

BREVE HISTÓRIA DE UM TIME RUBRO ANIL: VAMOS VOLTAR A FICAR AZUL, AZUL DA COR DO MAR

Uma amizade entre três amigos no dia 17/03/1919 foi o ponta pé inicial para a fundação, na cidade de Itajaí, de um dos mais antigos e importantes clubes de futebol do Brasil: CNMD – Clube Náutico Marcilio Dias. O nome foi uma homenagem ao marinheiro Marcílio Dias, morto na guerra do Paraguai. Nascido como clube náutico, esporte que na época despontava e reunia outros quatro clubes náuticos no estado, gradativamente foi descobrindo o futebol. Em 1925 foi campeão catarinense de remo e no tênis em 1945/47. O remo era ainda principal, mas o futebol começa a despontar e em 1930, o Marcílio obteve o seu primeiro vice-campeonato. Outras sete vezes - não é conta de mentiroso - o time bateu na trave e obteve o vice-campeonato catarinense.

Fonte: Site do Marcílio Dias

 

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Análise Vertical - Clubes de Futebol

Analisar “verticalmente” algum item numa demonstração contábil tem relação com identificar qual a representatividade deste em relação a algum total ou subtotal. Esse tipo de análise é importante para percebemos qual o percentual de uma receita específica em relação a receita total, por exemplo. A análise vertical permite responder a seguinte questão: Quanto representou a receita de direitos de transmissão em relação a receita total no ano de 2019? Ou, quanto da dívida total do meu clube deve ser paga nos próximos 12 meses? Vamos destrinchar nos próximos parágrafos com exemplos de análises comuns para empresas, mas também algumas que são mais importantes para clubes de futebol. Acompanhe!

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

A MP 984 e o potencial de partidas transmitidas

A Medida Provisória nº 984 (já abordada aqui) segue em discussão no Congresso Nacional, tendo sido recentemente (14/08/2020) prorrogada pelo prazo limite de mais 60 dias pelo seu Presidente, o Senador David Alcolumbre. Caso não se chegue a um consenso ao final desse prazo, a MP caducará deixando um rastro de complexas relações jurídicas estabelecidas durante a sua validade.

O ponto mais polêmico dessa MP diz respeito à alteração dos direitos de transmissão dos eventos desportivos, que passariam a ser titularizados apenas pelo clube mandante e não mais pelo clube mandante e visitante conjuntamente, como era até então. A polêmica gira em torno de saber se a nova dinâmica favorecerá ou prejudicará os clubes, sobretudo sob a perspectiva da igualdade econômica entre eles.

Guia de Jogos na TV - Hoje - Ao Vivo e Online » Mantos do Futebol
Crédito: Mantos do Futebol

Uma análise que pode auxiliar nesse debate é a do reflexo de cada um dos cenários no potencial número de partidas transmitidas pelos eventuais contratantes. Ou seja, quantas partidas uma emissora com os direitos de transmissão de um determinado número de clubes poderá transmitir em cada um dos modelos. Na sequência, procuramos fazer essa análise tendo por base o Campeonato Brasileiro das Séries A ou B, onde o formato de competição é o mesmo: 20 clubes se enfrentam em jogos de ida e volta.

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Números que não batem #2: Goiás e as provisões

Dando continuidade a série “Números que não batem”, hoje apresentamos o que foi encontrado nas demonstrações do Goiás Esporte Clube.

Ao se analisar as Demonstrações Financeiras do clube goiano, um item que apresenta divergências e prejudica a análise se refere às Provisões para Contingências. Seus efeitos podem repercutir no resultado (Demonstração do Resultado do Exercício) e na estrutura patrimonial (Balanço Patrimonial). Há que se ressaltar que provisões para contingências consistem nos processos pelos quais os clubes são julgados e a probabilidade de perda pela equipe é provável, sendo reconhecido como um passivo do clube, ainda que o processo não tenha sido finalizado.


Em 2011, o clube divulgou um total de R$ 13.018.596 em provisões para contingências no Balanço Patrimonial. Quando a nota explicativa relativa ao tema (nota 14) é analisada, verifica-se que o total para as provisões apresentado é o mesmo do balanço. Contudo, como são divulgados 4 tipos de provisões (fiscais, cíveis, trabalhistas e administrativas), ao efetuar o somatório dos valores, o totalizador é outro. 

Em 2016, o clube também apresentou divergências entre as informações. Neste caso, divulgou no Balanço Patrimonial o valor de R$ 16.285.257,68 a título de provisões para contingências. Contudo, ao observar o totalizador da Nota Explicativa (nota 14), o valor é diferente (R$ 16.230.257,68).

Nos demais anos, não foram encontradas divergências nos valores, todavia, também não é possível saber se o clube corrigiu as informações. Não há menções no relatório de auditoria.

Ainda que esta diferença não seja material quando comparado com o total do passivo do clube ou o próprio não circulante, há que se considerar que seu efeito também no resultado, pois, sendo estes valores considerados aumentos nas estimativas feitas, os valores transitaram como uma despesa no resultado do exercício de 2011 e 2016, portanto, subavaliando-os.

Estas divergências, contemplam uma informação distorcida e reduzem a qualidade dos dados divulgados. Isto foi identificado em apenas um tipo de informação e, caso aconteça em outras contas, pode distorcer ainda mais a situação econômica, financeira e patrimonial do clube.

E você, já encontrou algo parecido no seu clube? Comente!


terça-feira, 4 de agosto de 2020

Orçamento

Esta é a quarta e última postagem a respeito das demonstrações contábeis divulgadas por clubes de futebol. 

Para acompanhar a primeira postagem, a respeito do Balanço Patrimonial, clique aqui.
Para acompanhar a segunda postagem, a respeito da Demonstração do Resultado do Exercícioclique aqui.
Para acompanhar a terceira postagem, a respeito da Demonstração dos Fluxos de Caixaclique aqui.

Nesta postagem apresentaremos alguns aspectos relacionados a elaboração de um orçamento para um clube de futebol. O orçamento auxilia no planejamento de uma organização, tendo como principal objetivo estimar receitas e despesas para um período no futuro, geralmente o próximo ano para clubes de futebol. Assim, no final do mês de dezembro e início do mês de janeiro é comum que os clubes divulguem seus orçamentos. Em função de não levar em consideração números reais, mas sim projeções, frequentemente estes demonstrativos não são auditados. Assim, as informações desta demonstração não passaram pela validação externa de uma empresa de auditoria. 

quinta-feira, 23 de julho de 2020

Análise das Demonstrações - Avaí (2019) - Parte II

Na segunda parte da postagem, analisaremos a demonstração do resultado do exercício, demonstração dos fluxos de caixa e apontaremos nossas considerações finais.
Para acompanhar o início da discussão, acesse o link da primeira parte.


terça-feira, 21 de julho de 2020

Análise das Demonstrações - Avaí (2019) - Parte I

Olá, nesta postagem destacaremos alguns aspectos da demonstração divulgada pelo Avaí em julho de 2020, referente aos anos de 2019 e 2018. As demonstrações completas podem ser acessadas no link

Ressaltamos que a intenção de apresentar aspectos positivos e negativos da demonstração é que estas sejam aprimoradas e que aqueles aspectos que considero adequados permaneçam. Destaca-se que as análises são realizadas a partir das demonstrações publicadas no site do clube e notícias veiculadas em órgãos de imprensa. Interpretações diversas são possíveis e incentivamos que a caixa de comentários seja utilizada para manifestação de opiniões, convergentes e divergentes, bem como para apontamento de eventuais dúvidas. 

Dividimos a postagem em duas partes, em função do tamanho, sendo que na primeira postagem constam as análises do Balanço Patrimonial e na segunda da Demonstração do Resultado e da Demonstração dos Fluxos de Caixa de acordo com a ordem publicada pelo clube. Destacamos que nos links abaixo você pode ler a respeito de detalhes de ordem técnica destas demonstrações neste blog.

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Salário, Direito de Imagem e Direito de Arena


Recentemente uma ação judicial movida pelo meio-campista Maicon (atualmente no Grêmio) contra o seu ex-clube, São Paulo, trouxe à tona questões que costumam se ater aos tribunais trabalhistas. Em troca de insinuações na mídia envolvendo o jogador, seu antigo e atual clube, foram mencionados conceitos jurídicos relacionados à remuneração dos atletas, como salário, direito de imagem e direito de arena. Mas afinal, qual a diferença entre eles e por que podem acabar dando causa ao confronto de clubes e atletas na justiça?

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Números que não batem #1: Vasco da Gama e a depreciação

Dando início as postagens da nossa série, hoje apresentamos o que foi encontrado nas Demonstrações do Vasco.


Ao se analisar as Demonstrações Financeiras do clube carioca, um item que apresenta divergências e prejudica a análise é a Depreciação. Seus efeitos repercutem no resultado (Demonstração do Resultado do Exercício) e na estrutura patrimonial (Balanço Patrimonial).


quinta-feira, 9 de julho de 2020




Nesta nova série do Blog, vamos apresentar para vocês alguns “causos” que achamos nas Demonstrações Financeiras dos clubes durante a realização das nossas pesquisas. Um problema na soma de algumas contas, uma informação repetida de um ano para o outro, um rol de inconsistências na apresentação dos demonstrativos.

O objetivo é mostrar algumas pequenas questões que estão presentes nos documentos e que, para a maioria das pessoas, passam despercebidas pois as análises não esmiúçam os números. Nosso objetivo NÃO é apontar culpados ou indicar fraude ou desvios, mas apenas mostrar o que encontramos e nos chamou a atenção nestes anos.

Ressaltamos que, ainda que longe do desejado, as Demonstrações Financeiras dos clubes têm melhorado sua apresentação e se tornado mais informativas ao longo dos últimos 10 anos. Também, em função das legislações criadas, o número de clubes brasileiros divulgando suas informações aumentou.

Achou algo de estranho no balanço do seu clube? Uma soma que não fecha, uma nota explicativa ctrl+c ctrl+v? Conta para gente!

E para iniciar as ponderações, na próxima Segunda-Feira (13/07), apresentaremos o Vasco e a sua depreciação.

terça-feira, 7 de julho de 2020

Demonstração dos Fluxos de Caixa

Série: Conhecendo as Demonstrações Contábeis 
Capítulo 3

Esta é a terceira postagem a respeito das demonstrações contábeis divulgadas por clubes de futebol. 

Para acompanhar a primeira postagem a respeito do Balanço Patrimonial clique aqui.
Para acompanhar a primeira postagem a respeito da Demonstração do Resultado do Exercício clique aqui.

Neste post apresentamos alguns aspectos da Demonstração dos Fluxos de Caixa. Nela, são evidenciadas as alterações ocorridas na conta caixa durante um período. Geralmente este intervalo compreende um ano.

quinta-feira, 2 de julho de 2020

Mecanismo de Solidariedade: divagações a partir do caso Arthur x Pjanic


Em tempos de receitas minguadas no futebol, como o atual, o mecanismo de solidariedade imposto pela FIFA adquire uma maior relevância aos clubes de futebol brasileiros, mundialmente reconhecidos pela sua capacidade de formação de atletas. De acordo com o mecanismo, até 5% do valor que um jogador foi transacionado é devido aos seus clubes formadores, sendo 0,25% por ano entre o 12º e 15º aniversário e 0,5% por ano entre o 16º e 23º aniversário. Ou seja, a equipe responsável pelo jogador durante cada uma dessas fase de sua formação, terá direito ao percentual respectivo em qualquer transação que o envolva durante toda sua carreira de atleta profissional.

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Direitos de transmissão - NBA

A alta popularidade do basquete faz com que a NBA, principal liga de basquete do mundo, atraia cada vez mais a atenção de fãs ao redor do mundo. Além de organizar esportivamente, a NBA organiza alguns assuntos financeiros relacionados a todas as equipes (as quais são empresas com fins lucrativos). 

domingo, 21 de junho de 2020

50 ANOS DO TRICAMPEONATO - Não foi uma Vaga Lembrança

Hoje faz 50 anos do tri campeonato brasileiro no México. Quem já estava pela vida e tinha mais de cinco anos deve se lembrar onde estava e o que aconteceu naquele 21/06/1970, que também era um domingo lindo de sol. 

Eu tinha oito anos, meu irmão Afonso 12. O normal, para a maioria dos brasileiros, era não ter TV. Não éramos diferentes. Ter televisão, talvez, quem sabe, quando muito, só num vizinho ou parente e olhe lá.  Então, meu irmão me levou para ver o jogo na casa da tia Laura, no distante bairro Cordeiros na saudosa Itajaí.  Assistimos juntos: eu, ele e o primo Velci. Pelo que me lembro, não tinha mais ninguém na casa da tia. Ventava um pouco no início do jogo.  A imagem da TV era ruim e por duas ou três vezes caiu a energia na casa. 

Pouco do jogo conseguimos assistir. Sem rádio a pilha, sem vizinhos próximos, a ansiedade e a tristeza aumentavam por não poder acompanhar aquele jogo dos sonhos. A energia voltou, mas a imagem da TV ficou na lembrança. Conseguimos ouvir a parte final pelo rádio. 

Quando acabou, voltamos de ônibus para o bairro da Vila, onde morávamos fazia séculos. Pegamos um ônibus e paramos no centro da cidade, onde era o ponto final do coletivo Itajaí. Sem dinheiro para pegar o próximo ônibus até em casa, viemos andando, uma distância insignificante hoje em dia, mas naquela época, uma grande travessia. A comemoração do tricampeonato pelo centro da cidade era imensa e parecia que nunca iria acabar. Todos estavam lá e eu não queria voltar. Nunca tinha visto nada igual. Muita gente cantando e gritando Brasil Campeão!! Brasil!! Brasil Tricampeão!! Numa felicidade contagiante que aos olhos de uma criança parecem eternas. 

Meu irmão me segurava firme pelas mãos para não me perder no meio daquela alegria confusa. Num desses momentos que você nunca esquece, ele achou, ganhou, encontrou (sei lá) e me deu uma bandeirinha do Brasil com mastro de bambu. A minha felicidade já era imensa e parecia transbordar quando eu sacudia com o maior entusiasmo do mundo aquela pequena bandeirinha de papel do Brasil. Este foi um dos poucos momentos da vida que nunca esqueci. Também nunca falei para ele!



sexta-feira, 19 de junho de 2020

MP 984: uma perspectiva jurídica


A edição da Medida Provisória (MP) nº 984 no último dia 18 acendeu um vigoroso debate no meio futebolístico a respeito do melhor modelo de negociação dos direitos de transmissão pelos clubes de futebol. Para além dos impactos econômicos e, por tabela, desportivos dessa MP, é preciso considerar alguns aspectos jurídicos.

Em resumo, a MP nº 984 alterou o art. 42 da Lei Pelé para dispor que o direito de transmissão do espetáculo desportivo cabe unicamente ao clube que detém o mando de campo. Ou seja, um veículo de comunicação poderá transmitir uma partida de futebol apenas com a autorização do clube mandante. Até então era necessária a autorização de ambos clubes de futebol envolvidos no espetáculo.

Um primeiro ponto que chama a atenção é a circunstância de essa matéria ter sido disposta por meio de uma MP. Isso porque, esse é um instrumento normativo com força de lei que deve ser utilizado pelo Presidente da República apenas “em caso de relevância e urgência”, nos termos da Constituição Federal. Por ser uma exceção momentânea à tripartição dos poderes – segundo a qual cabe ao Poder Legislativo editar as normas –, sua utilização deve se limitar às situações relevantes e urgentes que não possam aguardar o usualmente longo processo legislativo. Não parece ser esse o caso da MP em discussão, o que de início já prejudicaria sua constitucionalidade.

De qualquer modo, a MP perderá a eficácia caso não seja convertida em Lei pelo Congresso Nacional no prazo de 60 dias, prorrogável por igual período. Nessa situação, o Congresso Nacional deverá disciplinar por decreto legislativo as relações jurídicas dela decorrentes, quais sejam, as consequências de eventuais transmissões e contratos ocorridos com base na MP.

Outro ponto que chama a atenção diz respeito a uma questão já levantada pelo Grupo Globo – principal detentor dos direitos de transmissão no futebol brasileiro – relativa ao fato de que os contratos de direito de transmissão celebrados até então o foram com base na norma anterior, ou seja, contemplaram tanto a situação de mandante quanto de visitante. Nesse sentido, independente do que dispõe a MP, até o fim da vigência dos contratos já celebrados, o Grupo Globo deteria o direito de transmissão inclusive dos espetáculos em que os clubes contratantes com ele fossem visitantes. Ou seja, a nova dinâmica estabelecida pela MP somente se aplicaria aos contratos celebrados após a sua edição.

Não é possível adiantar qual a interpretação que o judiciário dará a esse entendimento, ou, então, se o Congresso Nacional alterará a redação da MP para deixar claro qual a solução a ser dada a essa situação específica. É possível, no entanto, afirmar que levantará questionamentos sob distintos ângulos.

Conforme se vê, a situação posta pela MP está longe de ser definitiva sob a perspectiva jurídica. Melhor teria sido endereçar a questão através de um regular Projeto-de-Lei, o qual possibilitaria uma ampla discussão com os interessados e, certamente, uma solução mais estável. De qualquer modo, a discussão de mérito ocasionada por ela é relevante, devendo de algum modo ser tratada pela sociedade.


domingo, 14 de junho de 2020

Demonstração do Resultado do Exercício

Série: Conhecendo as Demonstrações Contábeis
Capítulo 2 

Esta é a segunda postagem a respeito das demonstrações contábeis divulgadas por clubes de futebol. 

Para acompanhar a primeira postagem a respeito do Balanço Patrimonial clique aqui.

Nesta postagem explicaremos alguns aspectos da demonstração do resultado do exercício.

Este demonstrativo apresenta as receitas e despesas de uma entidade num intervalo de tempo. Geralmente este intervalo compreende o período de um ano. A maioria dos clubes de futebol, objeto de análise deste blog, divulgam apenas demonstrações anuais de acordo com a exigência imposta pela Lei Pelé (Lei 9615/98). Há exemplos, entretanto, de clubes que divulgam suas demonstrações mensalmente (Bahia) e trimestralmente (Flamengo e Grêmio), além das demonstrações anuais. 

A estrutura da demonstração é simples. Primeiramente, são elencadas as receitas auferidas e despesas incorridas pelos clubes no período. A última linha desta demonstração apresenta o lucro da entidade, o qual é resultado de todas as receitas auferidas subtraídas de todas as despesas incorridas no período. 
Quando Receitas > Despesas: a organização apresenta lucro.
Quando Receitas < Despesas: a organização apresenta prejuízo.
No caso de clubes de futebol brasileiros, como a maioria destes é estruturado como associações sem fins lucrativos, há uma adaptação das nomenclaturas. O lucro é chamado de superávit e o prejuízo de déficit. 

Um aspecto importante desta demonstração é que nem sempre as receitas já foram recebidas pelos clubes bem como as despesas pagas no período. Na contabilidade dizemos que esta demonstração é elaborada pelo regime de competência. A demonstração que evidencia as entradas e saídas de recursos pelo regime de caixa é a demonstração dos fluxos de caixa. Portanto, não assuma uma receita de R$ 500 milhões no período como realmente recebida pelo clube. Ainda, não perceba uma despesa de R$ 600 milhões como paga.

Apresentamos a demonstração do Grêmio no ano de 2019 para destrinchar alguns conceitos e fazer análises preliminares. 

Fonte: Demonstrações de 2019 do Grêmio

É possível apresentar a demonstração do resultado do exercício de maneira sintética ou analítica. O Grêmio a apresentou de maneira sintética, ou seja, não detalhou as receitas e custos que ocorreram ao longo dos anos de 2019 e 2018 na própria demonstração. Estes detalhes foram apresentados nas notas explicativas que acompanham as demonstrações do clube. Na nota número 21, por exemplo, o clube apresentou de maneira analítica as receitas relacionadas com sua principal atividade. 


Fonte: Demonstrações de 2019 do Grêmio

Percebe-se que no ano de 2019 as receitas com transmissão (direitos de transmissão pagos pelas emissoras de TV para transmitir os jogos) e venda/empréstimos de jogadores foram as mais relevantes.  O clube detalha com mais profundidade as receitas de transmissão, destrinchando-a por campeonato.

Fonte: Demonstrações de 2019 do Grêmio

A respeito das receitas com venda de jogadores, no início do ano de 2019 o clube vendeu os atletas Tetê para o Shaktar Donetsk (Ucrânia) e Luan para o Corinthians, sendo importante para atingir este nível de receitas. Ela foi menor que em 2018, em função da relevante venda do meio campista Arthur para o Barcelona (Espanha) na metade daquele ano. O clube detalha com transparência as receitas auferidas nestas transações.
Apontamos que até mesmo receitas auferidas por meio do mecanismo de solidariedade foram importantes para o clube. Neste mecanismo, jogadores que atuaram no clube entre os 12 e 23 anos geram um % sobre futuras vendas internacionais destes atletas. A venda do atleta Douglas Costa do Bayern de Munique (Alemanha) para a Juventus (Itália) ainda rende frutos para o clube. Portanto, perceba a importância das categorias de base formar jogadores de qualidade. Este atleta foi vendido em 2010 pelo Grêmio para o Shaktar Donetsk (Ucrânia) e no ano de 2019 ainda rende frutos para o clube. Note ainda que a soma dos valores auferidos pelo mecanismo de solidariedade superaram o valor de R$ 4 milhões no ano de 2019.

Fonte: Demonstrações de 2019 do Grêmio

Agora, analisaremos as despesas incorridas pelo Grêmio no ano de 2019. Os custos da atividade do desporto apresentam como valor mais relevante o salário pago aos atletas. A amortização de direitos sobre atletas profissionais também é outro valor importante na composição dos custos, mas merece uma postagem específica para explicarmos como funciona. De maneira resumida, apresentamos que os valores incorridos para a compra de um atleta são reconhecidos ao longo do tempo do contrato.

Fonte: Demonstrações de 2019 do Grêmio

Após o desconto de todas as despesas, apresenta-se o superávit do clube. Em ambos os anos (2019 e 2018) o clube apresentou receitas maiores que despesas. Destaca-se que em 2017 e em 2016 o clube também apresentou resultados superavitários. Tal cenário (4 anos consecutivos de receitas superiores as despesas) é extremamente raro no cenário brasileiro. 

Para finalizar esta postagem faz-se necessário apontar um ponto importante quando da análise desta demonstração para clubes brasileiros. Caso você queira fazer projeções para anos futuros, leve em consideração que algumas receitas e despesas são mais previsíveis do que outras. O resultado esportivo do Grêmio nos últimos anos foi de bom nível. Portanto, ao fazer projeções seja cauteloso com receitas de transferências de atletas e premiações por avançar até as fases finais de competições nacionais e internacionais, já que caso o clube não atinja este nível estas receitas vão reduzir de maneira significativa. As receitas com maior parcela fixa, como direitos de televisão do campeonato brasileiro podem ser estimadas com maior nível de certeza. Como exemplo, clubes europeus divulgam o resultado líquido (receitas - despesas) com transferências de atletas de maneira destacada dos outros resultados em função da compra e venda de atletas não ser a principal atividade de um clube de futebol. Assim, considera-se estas receitas e despesas como não recorrentes. 

Estes são alguns pontos básicos da demonstração do resultado. Como você avalia a demonstração de resultado do seu clube do coração? Ele apresentou superávits (lucros) ou déficits (prejuízos) nos últimos anos? Compartilhe conosco nos comentários. 👍

Na próxima semana, apresentaremos a Demonstração dos Fluxos de Caixa tendo o Goiás como objeto de análise.

Obrigado!