quarta-feira, 10 de junho de 2020

Balanço Patrimonial

Série: Conhecendo as Demonstrações Contábeis 
Capítulo 1 

Você sabe quais demonstrações contábeis seu clube do coração divulga e o que elas significam?

Pensando em fornecer informações que podem ser úteis para você conhecer mais sobre as finanças do seu clube do coração, começaremos uma série de postagens a respeito das principais demonstrações contábeis aqui no blog. Traremos os principais conceitos de cada publicação e seus objetivos, sempre tendo dados reais divulgados por clubes de futebol brasileiros para elaborarmos algumas análises. 

Hoje apresentamos o Balanço Patrimonial, uma importante demonstração contábil publicada pelos clubes de futebol, que apresenta os bens, direitos e obrigações de uma entidade em determindada data.

Os grupos de contas existentes nesta demonstração são: 

Ativo                     Passivo
                             Patrimônio Líquido

Uma equação muito conhecida na área contábil com estes elementos é: 

Ativo = Passivo + Patrimônio Líquido.

No Ativo são relacionados os bens e direitos controlados pela entidade. 

O Passivo evidencia as obrigações da entidade. 

Finalmente, o Patrimônio Líquido apresenta o saldo remanescente dos ativos após dedução dos passivos.

Na figura abaixo, apresentamos o Balanço Patrimonial publicado pelo Bahia no ano de 2019 para analisá-lo e fazer breves comentários. Cabe destacar que o Bahia é um dos únicos grandes clubes que publica mensalmente algumas de suas demonstrações.

Fonte: Balanço patrimonial publicado em conjunto com as demonstrações do ano de 2019 do Esporte Clube Bahia, p.6.

As contas do Ativo e Passivo são classificadas, de acordo com o prazo de realização, em Circulante e Não Circulante

No Circulante, os bens, direitos e obrigações que serão realizados em até doze meses. Já no Não Circulante, os elementos que serão realizados em prazo superior a doze meses.

Apontamos como contas representativas do Ativo Circulante:
  1. Caixa e equivalentes de caixa, onde são evidenciados a quantia em dinheiro e aplicações em investimentos de alta liquidez que o clube possui.
  2. Contas a receber, onde são evidenciados os valores a receber das diversas fontes de receita que o clube possui. Valores relacionados a venda de atletas que ainda não foram pagas, cotas de televisão, valores relacionados a patrocínio.
Destaca-se que dos aproximadamente R$ 30 milhões que o Bahia tem a receber metade refere-se a venda de jogadores ainda não recebidas. Parte da venda dos jogadores Junior Brumado para o Midtjylland (Dinamarca), Zé Rafael para o Palmeiras, Becão para Udinese (Itália) e Jean para o São Paulo ainda não haviam sido pagas pelos clubes mencionados. Assim, esses valores constam como direitos a receber no balanço do Bahia.

Apontamos para os habituados com análises de empresas comerciais que o estoque, conta representativa para estas, não tem a mesma relevância para o Bahia e a maioria dos clubes de futebol. 

No Ativo Não Circulante destacamos como contas representativas: 
  1. Imobilizado, onde são evidenciados bens como estádios, terrenos e centros de treinamentos que os clubes possam ter controle.
    • No caso do Bahia, aponta-se como valor mais relevante deste grupo os imóveis pertencentes ao clube, como o centro de treinamento Evaristo de Macedo, recém construído. As notas explicativas apenas fazem menção ao valor de imóveis, mas não evidencia maior detalhamento. Apontamos como sugestão para melhorar as demonstrações contábeis evidenciar de maneira mais detalhada, pois seria possível identificar quais imóveis pertencem ao clube. 
  2. Intangível, onde são registrados os direitos econômicos dos atletas. Destaca-se que não é registrado o valor que o jogador "vale' (seu valor de mercado), mas sim o quanto sua transferência custou para o clube no momento da transferência. Com o passar do contrato, esse valor vai sendo reduzido até chegar a zero quando o contrato é finalizado. Futuramente, teremos uma postagem a respeito deste assunto. Acompanhem!
    • No caso do Bahia, nota-se um equilíbrio entre os valores referentes a formação de jogadores de suas categorias de base e aqueles valores referentes a contratação de jogadores formados em outros clubes. Destaca-se que para clubes reconhecidos por suas contratações, este equilíbrio inexiste, onde os valores referentes a contratação de jogadores superaram em larga escala os valores referentes a formação de jogadores. 
Fonte: Nota explicativa 7 publicada em conjunto com as demonstrações do ano de 2019 do Esporte Clube Bahia, p.6.

Apontamos como contas representativas do Passivo Circulante:
  1. Fornecedores, valores que o Bahia deve para seus fornecedores. Em função da não existência de uma nota explicativa específica para esta conta não podemos informar sobre o que estes valores se relacionam. Destaca-se que em função da relevância do valor a presença de uma nota explicativa seria indicada. Supomos que valores devidos aquisição de atletas componham o saldo desta conta.
  2. Acordos a pagar, valores que o clube acordou pagamento em função de processos trabalhistas.
  3. Obrigações sociais, trabalhistas e fiscais, valores relacionados com obrigações trabalhistas, previdenciárias e tributárias que o clube deve pagar nos próximos doze meses.
  4. Receita a apropriar, valores relacionados com receitas que o clube já recebeu de maneira antecipada. Apontamos que este valor não é uma obrigação por si, mas sim mais relacionado com um registro contábil (accrual). A explicação para tal registro é demasiadamente técnica para este espaço, onde queremos tratar com maior simplicidade dos assuntos. Mas, basicamente, o clube não terá que pagar esta "dívida" no futuro. Portanto, não compõem o endividamento, por exemplo.

No Passivo Não Circulante apontamos como contas representativas: 

  1. Parcelamentos, valores relacionados com o parcelamento obtido via PROFUT (Programa de Modernização e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro) A maior parte do valor de parcelamento do Bahia relaciona-se com o PROFUT.
  2. Contingências, valores relacionados a perdas prováveis em processos trabalhistas, cíveis e fiscais que já são incorporados ao balanço. Destaca-se que estes valores ainda não são obrigações certas do clube, mas em função de alta probabilidade de perda de acordo com o departamento jurídico do clube já são registradas no Balanço. 

Apontamos como ponto a ser destacado das demonstrações do Bahia a baixa representatividade dos empréstimos e financiamentos dentre as obrigações do clube. No cenário nacional, podemos destacar que o clube é exceção.

A respeito do Patrimônio Líquido, destaca-se seu valor negativo, em função do valor do passivo superar o valor do ativo. Nestas situações diz-se que a entidade apresenta passivo a descoberto. Isto é, os passivos da entidade não estão "cobertos" pelos ativos que esta controla. Esta situação é comum para clubes de futebol brasileiros e representa cenário preocupante, apesar de nos anos de 2018 e 2019 o clube ter apresentado superavits.


Estas contas são geralmente as mais representativas para clubes de futebol, mas cabe ressaltar que alguns clubes podem apresentar cenários distintos. Você conhece algum clube que apresenta uma estrutura diferente ou tem alguma sugestão de análise que poderia ser feita?? 
Compartilhe conosco nos comentários. 👍

Na próxima semana, apresentaremos a Demonstração do Resultado do Exercício tendo o Grêmio como objeto de análise. 

Obrigado!

2 comentários:

  1. Façam a analise do BP do Corinthians, por gentileza !
    Super pragmático o blog! Parabéns aos envolvidos.

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    1. Sugestão anotada e muito obrigado pelos elogios!
      Em breve passaremos a fazer análises de clubes e teremos uma do Corinthians com toda certeza!
      Continue acompanhando

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