segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Análise Vertical - Clubes de Futebol

Analisar “verticalmente” algum item numa demonstração contábil tem relação com identificar qual a representatividade deste em relação a algum total ou subtotal. Esse tipo de análise é importante para percebemos qual o percentual de uma receita específica em relação a receita total, por exemplo. A análise vertical permite responder a seguinte questão: Quanto representou a receita de direitos de transmissão em relação a receita total no ano de 2019? Ou, quanto da dívida total do meu clube deve ser paga nos próximos 12 meses? Vamos destrinchar nos próximos parágrafos com exemplos de análises comuns para empresas, mas também algumas que são mais importantes para clubes de futebol. Acompanhe!

Nesta postagem utilizaremos as demonstrações do Coritiba, referentes ao ano de 2019, para apresentarmos valores reais de um clube. Apenas uma observação para a análise das demonstrações do Coritiba: O clube apresenta as demonstrações do Coritiba Foot Ball Club (Controlador) e a apresentação consolidada do Coritiba Foot Ball Club e Coritiba Futebol S/A. Para as análises realizadas nesta postagem utilizamos os valores das demonstrações consolidadas.

Análise Vertical no Balanço Patrimonial

No Balanço Patrimonial, os bens, direitos e obrigações são classificados de acordo com os seus prazos de vencimento. Portanto, no Ativo Circulante estarão os bens e direitos que a entidade tem e que devem ser recebidos nos próximos doze meses, no máximo. Caso existam bens e direitos recebíveis para além desse prazo, estes serão classificados no Ativo não Circulante. Para as obrigações, o raciocínio é o mesmo, alterando apenas que ao invés de serem itens recebíveis serão as obrigações da entidade.

Uma relação que pode ser feita é identificar quanto destes bens e direitos são recebíveis nos próximos 12 meses em relação ao total do ativo. No caso do Coritiba, o Ativo Circulante representa 2% do Ativo Total em 31/12/2019 (4.310.841*100/187.156.773). No balanço de clubes de futebol comumente os elementos mais representativos do Ativo são o Estádio (registrado no Imobilizado) e os contratos celebrados com os atletas (registrados no Intangível). O Coritiba segue este padrão, tendo em vista que o Imobilizado representa 84% do Ativo Total (157.845.531*100/187.156.773) e o Intangível representa 12% (22.805.177*100/55.473.232) em 31/12/2019.




Fonte: Site do Coritiba

No passivo, onde constam as obrigações do clube, uma análise importante é identificar quanto destas dívidas devem ser pagas nos próximos 12 meses e quanto possui um prazo mais longo. Para isso, dividimos o passivo circulante pela soma do passivo circulante e passivo não circulante, também chamado de exigível total. Não some os valores do patrimônio líquido nesta análise pois lá constam os valores pertencentes aos associados da organização que não devem ser confundidos com os valores devidos a terceiros. No caso do Coritiba, em 31/12/2019, o clube possui 39% das suas dívidas no curto prazo (114.774.008*100/(114.774.008+178.282.172)).

Isso é bom ou ruim? Na contabilidade, e análise de balanços mais especificamente, não há padrões que devem ser seguidos ou números específicos. Quero dizer que esta relação calculada não tem um valor mágico que acima deste está bom e abaixo está ruim. Tudo depende do contexto e comumente de outros fatores relacionados. Por exemplo, e se relacionarmos os bens e direitos com as obrigações de curto prazo? Essa relação é chamada de Liquidez Corrente e é um indicador utilizado na análise de balanços. Vamos ao cálculo. Para o Coritiba está relação é 3% (4.310.841*100/(114.774.008). Portanto, os ativos de curto prazo não cobririam as dívidas de igual prazo caso elas fossem executadas no dia 31/12/2019. Isso é ruim? Não necessariamente, pois as dívidas são executadas ao longo de 12 meses e o clube receberá valores nesse período que ainda não constam no balanço para pagar estas dívidas. Você pode dizer que do outro lado, no passivo, isto também ocorrerá, isto é, dívidas serão assumidas ao longo do ano e que deverão ser pagas neste período. E está correto. Mas o que é objetivo desta postagem não é focar em conclusões a respeito destes indicadores, mas sim apresentar algumas relações que tornam a análise de balanços mais fácil. Em postagens futuras focaremos nas conclusões que podem ser feitas a partir destas relações. Por enquanto, estamos apenas as conhecendo.

Fonte: Site do Coritiba

Análise Vertical na Demonstração do Resultado

Vamos agora a análise vertical na Demonstração do Resultado. Na Demonstração do Resultado, temos dois elementos principais: Receitas e Despesas. Seu resíduo é chamado de lucro, em caso positivo, e prejuízo, no caso onde as despesas superam as receitas.

Na análise vertical a partir de valores da demonstração do resultado, podemos começar analisando a composição das receitas. Por exemplo, qual a representatividade da receita com direitos de TV na receita total do clube? Para o Coritiba em 2019 estas receitas representam 35% da receita total (15.302.253*100/44.055.591). Outra receita relevante para o clube em 2019 foi a com mensalidade dos sócios, a qual representa 23% da receita total (10.211.129*100/44.055.591).

Fonte: Site do Coritiba

 

Uma relação importante em termos de controle dos gastos, a qual consta dentre os indicadores do Financial Fair Play (FFP) aplicado a clubes europeus, é a relação entre despesa com salários e a receita total do clube. Para clubes de futebol, não basta o gasto com salários e encargos dos jogadores e funcionários, mas sim devemos somar também o gasto com direitos de imagem. Para conhecer mais a respeito disso, recomendo a postagem elaborada pelo João Henrique (link). Para o Coritiba, esta relação foi de 104% [(33.298.953+3.453.521+9.316.030)*100/ 44.055.591]. De acordo com o FFP relações acima de 70% são desencorajadas e objeto de punições aos clubes.

Fonte: Site do Coritiba

 

Fonte: Site do Coritiba

Conclusão

A análise vertical é uma importante ferramenta para analisarmos as demonstrações de um clube. Relações entre contas possibilitam a comparação de times com tamanhos diferentes. Sempre que compararmos clubes de tamanhos diferentes temos que analisar suas especificidades e características (possui estádio?, por exemplo). Mas algumas relações são bastante importantes para tornar o processo de analisar as demonstrações mais simples. Entretanto, não busque parâmetros de empresas ou regras gerais que vendem a ideia de simplicidade. Contabilidade não é algo puramente matemático. Escolhas contábeis influenciam os números nas demonstrações e cabe ao analista reconhecê-las e identificar os aspectos importantes a serem absorvidos.

Para ficar claro, não assuma que a relação entre passivo circulante e as obrigações deve ser inferior a 35,42%. Se estiver acima, é ruim. Se estiver abaixo, é bom. Análise das demonstrações é muito mais do que analisar os indicadores desta maneira. A parte mais interessante é entender o que os números significam, confrontar números ao longo do tempo e compreender sobre as características de um clube. Esse assunto (confrontar números ao longo do tempo), será tema da próxima postagem da série de análise das demonstrações. Em breve, no Futnanças, uma postagem a respeito da análise horizontal. Obrigado pela atenção e convido para discutirmos nos comentários.

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