segunda-feira, 13 de julho de 2020

Números que não batem #1: Vasco da Gama e a depreciação

Dando início as postagens da nossa série, hoje apresentamos o que foi encontrado nas Demonstrações do Vasco.


Ao se analisar as Demonstrações Financeiras do clube carioca, um item que apresenta divergências e prejudica a análise é a Depreciação. Seus efeitos repercutem no resultado (Demonstração do Resultado do Exercício) e na estrutura patrimonial (Balanço Patrimonial).



O clube carioca, no início da série histórica que acompanhamos (2011-2019) não realizava o procedimento de depreciação do ativo imobilizado como recomenda a normativa contábil. A justificativa apresentada era que o clube ainda não havia finalizado o levantamento total dos bens móveis e imóveis, como consta nas Notas Explicativas de 2011, 2012 e 2013 e nos relatórios de auditoria dos mesmos anos.

Fonte: Elaborado a partir das Notas Explicativas do Clube de Regatas Vasco da Gama.

Somente em 2014 o clube passou a realizar o procedimento para os bens imóveis, contudo, em 2015 já não o fez, alegando que esta era uma prática do clube. Tal fato foi apontado no Relatório de Auditoria: 
"O CLUBE DE REGATAS VASCO DA GAMA no ano de 2015 não realizou a depreciação dos seus bens móveis e imóveis, mantendo o mesmo saldo contabilizado em dezembro de 2014 na ordem de R$ 3.946 milhões, contrariando dessa forma a legislação aplicáveis bem como o resultado do exercício apurado em dezembro 2015 encontra-se a maior pelo não reconhecimento da depreciação". (Relatório de Auditoria, Vasco, 2015)
Em 2016 o clube voltou a realizar o procedimento, agora, para os bens móveis, afirmando que os demais continuariam sem a respectiva depreciação em função desta prática ser a adotada pela entidade.

Nos anos seguintes (2017, 2018 e 2019), o clube afirmou reconhecer a depreciação dos Ativos Imobilizados, mas os números não batem.

Em 2014, o clube afirma ter realizado a depreciação de seus bens imóveis e o valor pode ser verificado no seu Balanço Patrimonial e Demonstração do Resultado do Exercício (DRE).

Contudo, aqui começam as divergências.
  •  Na DRE há uma despesa com depreciação e amortização de R$ 1.448.518. 


Fonte: Demonstrações Contábeis do Clube de Regatas Vasco da Gama (2014).
  • No Balanço há uma depreciação acumulada de R$ 3.945.785.
Fonte: Demonstrações Contábeis do Clube de Regatas Vasco da Gama (2014).

Ou seja, o clube registrou uma despesa com depreciação no período de R$ 1.448.518, mas no Balanço consta uma constituição de R$ 3.945.785, sem explicação. 

  • No Fluxo de Caixa, elaborado pelo método indireto, a depreciação não aparece na reconciliação do lucro. 
  • No Relatório de Auditoria, há menção desta diferença nos valores, onde os responsáveis pelo exame das demonstrações apontam que não conseguiram realizar identificar os cálculos realizados na apuração dos valores registrados, bem como a distorção identificada. 

Em 2016 o clube afirmou efetuar a depreciação dos seus bens móveis, sendo que o restante se manteria sem a realização conforme a prática adotada pelo clube. Todavia, o clube já havia efetuado depreciação em 2014, sendo o valor mantido em 2015, pois o clube não realizou o cálculo, mas não constava na nota explicativa comparativa de 2015.

Fonte: Demonstrações Contábeis do Clube de Regatas Vasco da Gama (2016).

Em 2017 as diferenças foram encontradas na DRE e no Fluxo de Caixa. No resultado, juntas as despesas de depreciação somam R$ 26.963.000, que é diferente do total apresentado na DFC, quando deveriam ser iguais.

Fonte: Demonstrações Contábeis do Clube de Regatas Vasco da Gama (2014).
Fonte: Demonstrações Contábeis do Clube de Regatas Vasco da Gama (2014).

Em 2018 e 2019 o clube reapresentou as Demonstrações de 2017 e 2018, respectivamente, efetuando ajustes na depreciação, conforme Nota Explicativa.
"Refere-se à ajustes/reclassificações de lançamentos não contabilizados em depreciações e amortizações do futebol profissional, clube social e esportes amadores". 

Resumidamente, o clube, ao longo dos anos, não foi consistente com cálculo da depreciação dos bens do ativo imobilizado, afirmando, inclusive, que a prática não era algo realizado pelo clube, ainda que contrarie a normativa contábil. Além disso, após iniciar o cálculo e, portanto, o reconhecimento da despesa com depreciação, os valores, muitas vezes, eram divergentes entre as Demonstrações Contábeis, apresentando uma informação distorcida ao público e dificultando a comparabilidade destas com anos anteriores. Também, a frequente reapresentação e/ou reclassificação dos demonstrativos confunde ainda mais o leitor. 

Uma das características da informação contábil é a sua comparabilidade e esta, por sua vez, fica prejudicada quando há mudanças frequentes nas práticas contábeis, como é o caso aqui apresentado. O clube até 2016 não apresentou consistência e coerência na estimativa de depreciação de seus Ativos Imobilizados, variando entre o tipo submetido à avaliação (móveis versus imóveis), bem como a frequência de realização. Após este período é que, pelo o que consta em nota explicativa, parece haver menos incongruências nos procedimentos.

Ainda que atualmente o clube realize de forma mais consistente o a depreciação, é possível que a situação patrimonial do clube esteja distorcida se o mesmo não realizou os devidos ajustes em relação aos anos em que a depreciação não foi realizada.

E você, já encontrou algo parecido no seu clube? Comente! 

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