sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Análise Horizontal

Nesta postagem traremos alguns conceitos de análise financeira, mais especificamente, a análise horizontal. Em postagem anterior, destacamos a importância da análise vertical.

Por meio da análise horizontal é possível identificar a evolução de algum item das demonstrações contábeis ao longo do tempo. A análise horizontal permite, portanto, responder as seguintes questões: A receita do meu clube evoluiu quanto de um ano para o outro? Qual foi o impacto, em termos monetários e percentuais da ascensão/queda de divisão do meu clube no campeonato brasileiro?

Traremos o exemplo de dois clubes: Goiás (subiu em 2018 para primeira divisão) e Paraná (caiu para a segunda divisão em 2018). Veremos o impacto de subir ou cair de divisão explorando aspectos da análise horizontal.

Acompanhe!


Análise Horizontal Balanço Patrimonial

Focaremos na conta Caixa e Equivalente de Caixa e no grupo de contas do Intangível. A conta caixa e equivalentes de caixa registra o montante que o clube tem em aplicações financeiras de curto prazo e o saldo bancário. No grupo do Intangível são registrados os contratos dos atletas profissionais e da base.

Agora que sabemos o que analisaremos, vamos a análise propriamente dita. Na análise horizontal vamos comparar o saldo do corrente com o saldo do ano anterior. Comumente utilizamos o saldo do ano anterior como base e o saldo do ano corrente é utilizado para mensurarmos a variação. Se o saldo do ano corrente for superior ao saldo do ano anterior, teremos uma variação positiva. Caso ocorra o contrário, isto é, o saldo do ano corrente for inferior ao saldo do ano anterior, teremos uma variação negativa.

Para tornar mais claro, segue exemplos utilizando as demonstrações do Goiás, mais especificamente o seu ativo.

No ativo circulante do Goiás, na conta Caixa e equivalente de caixa o clube registrou uma variação de 3258% [(10.433.196*100/310.709)-1). Não se assuste com o número tão grande. Ele não é comum, mas tem uma explicação. Como o Goiás subiu da série B para a série A no ano de 2018, ele possuía pouco saldo em caixa no dia 31/12/2018 (lembre, balanço patrimonial sempre tem uma data específica e não um período). Com o acesso para a série A e a manutenção para o mesmo campeonato em 2021, o clube pode ter um alívio financeiro final do ano e manter um saldo relevante em caixa para o próximo ano. Além disso, note a conta Aplicações financeiras. No final de 2018 o clube mantinha quase R$ 19 milhões de reais em aplicações financeiras, enquanto no final de 2019 não possuía saldo nessa conta. De maneira mais profunda, poderíamos observar que o somatório dos ativos de curto prazo do clube (Ativo Circulante) reduziu em 42% [(13.986.938*100/24.026.293)-1].



A partir desse exemplo podemos extrair que não basta analisar de maneira individual uma conta e tirar uma conclusão, mas sim analisar o todo. Portanto, poderíamos analisar “horizontalmente” todos os itens do balanço patrimonial para ter uma melhor percepção das movimentações. Perceba que se o valor base for pequeno é possível que pequenas variações monetárias geram um percentual elevado.

Reclassificações do não circulante para o circulante podem impactar a análise também. Esse tipo de operação ocorre usualmente para dívidas. Quando a data do pagamento dessa dívida se aproxima, o saldo que constava no não circulante é reclassificado para o curto prazo. Isso deve ser considerado na análise horizontal para que conclusões equivocadas não sejam realizadas.

Agora vamos a parte da dívida. Para isso, iremos analisar as demonstrações do Paraná. Os salários e ordenados a pagar tiveram um aumento de 37% [(9.364.000*100/6.821.000)-1]. Por outro lado, as provisões para contingências reduziram substancialmente em termos monetários (-14.905.000) e percentualmente o efeito não foi tão grande (15%) em função do valor base ser expressivo. Esse aspecto deve ser considerado na análise horizontal. Por vezes, a redução monetária será relevante para o clube, mas em função da magnitude do valor base o reflexo em termos percentuais será baixo. O inverso também é verdadeiro, isto é, pode ser que o reflexo em termos percentuais seja grande, mas não mude quase nada em termos monetários. Por isso, para além do cálculo dos percentuais, é importante ver o reflexo em termos monetários e conectar com possíveis reclassificações do não circulante para o não circulante. Algumas vezes, não conseguiremos fazer isso com as informações que nós, usuários externos, possuímos. O usuário interno, no nosso caso o gestor do clube, terá mais informações do que aquelas divulgadas no site. Mas com as informações que possuímos podemos elaborar algumas conclusões.



Análise Horizontal na Demonstração do Resultado

Os mesmos preceitos para análise horizontal no balanço continuam relevantes na demonstração do resultado. Analisaremos as receitas e despesas dos dois clubes de maneira geral. No Paraná, a queda para a segunda divisão resultou numa redução de 26 milhões reais ou 55% em termos de receitas. Para o Goiás, o acesso resultou em aumento de 15 milhões ou 20% em termos de receitas.

Em termos de despesas. Para o Goiás, o acesso resultou em aumento de 18 milhões de reais ou 41% em termos de custos com futebol. Já para o Paraná, a queda para a segunda divisão resultou numa redução de 25 milhões reais ou 56% em termos de custos com futebol.

Destaca-se que aqui o objetivo não foi analisar com profundidade as receitas do Goiás e do Paraná nem induzir a conclusão que isso se refletiria para outros clubes e outros períodos. Outros fatores como venda de atletas, por exemplo, podem influenciar esse resultado.





Conclusão

Destaca-se que a análise horizontal em conjunto com a análise vertical das demonstrações pode provocar reflexões interessantes para quem as analisa. Pode-se dizer que elas apontam alguns indícios, mas deve-se ter bastante parcimônia com as análises. Por exemplo, por vezes o percentual é extremamente elevado para uma variação ocorrida, mas não possui reflexo de igual significância em termos reais. O contrário também é verdadeiro, é possível que por meio da variação percentual não seja observável o efeito monetário ocorrido.

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