Nesta postagem traremos alguns conceitos de análise financeira, mais especificamente, a análise horizontal. Em postagem anterior, destacamos a importância da análise vertical.
Por meio da análise
horizontal é possível identificar a evolução de algum item das demonstrações
contábeis ao longo do tempo. A análise horizontal permite, portanto, responder
as seguintes questões: A receita do meu clube evoluiu quanto de um ano para o
outro? Qual foi o impacto, em termos monetários e percentuais da ascensão/queda
de divisão do meu clube no campeonato brasileiro?
Traremos o exemplo de
dois clubes: Goiás (subiu em 2018 para primeira divisão) e Paraná (caiu para a
segunda divisão em 2018). Veremos o impacto de subir ou cair de divisão
explorando aspectos da análise horizontal.
Acompanhe!
Análise
Horizontal Balanço Patrimonial
Focaremos na conta Caixa
e Equivalente de Caixa e no grupo de contas do Intangível. A conta caixa e
equivalentes de caixa registra o montante que o clube tem em aplicações
financeiras de curto prazo e o saldo bancário. No grupo do Intangível são
registrados os contratos dos atletas profissionais e da base.
Agora que sabemos o que
analisaremos, vamos a análise propriamente dita. Na análise horizontal vamos
comparar o saldo do corrente com o saldo do ano anterior. Comumente utilizamos
o saldo do ano anterior como base e o saldo do ano corrente é utilizado para
mensurarmos a variação. Se o saldo do ano corrente for superior ao saldo
do ano anterior, teremos uma variação positiva. Caso ocorra o contrário,
isto é, o saldo do ano corrente for inferior ao saldo do ano anterior,
teremos uma variação negativa.
Para tornar mais claro,
segue exemplos utilizando as demonstrações do Goiás, mais especificamente o seu
ativo.
No ativo circulante do Goiás,
na conta Caixa e equivalente de caixa o clube registrou uma variação de 3258% [(10.433.196*100/310.709)-1).
Não se assuste com o número tão grande. Ele não é comum, mas tem uma
explicação. Como o Goiás subiu da série B para a série A no ano de 2018, ele
possuía pouco saldo em caixa no dia 31/12/2018 (lembre, balanço patrimonial
sempre tem uma data específica e não um período). Com o acesso para a série A e
a manutenção para o mesmo campeonato em 2021, o clube pode ter um alívio
financeiro final do ano e manter um saldo relevante em caixa para o próximo ano.
Além disso, note a conta Aplicações financeiras. No final de 2018 o clube
mantinha quase R$ 19 milhões de reais em aplicações financeiras, enquanto no
final de 2019 não possuía saldo nessa conta. De maneira mais profunda,
poderíamos observar que o somatório dos ativos de curto prazo do clube (Ativo
Circulante) reduziu em 42% [(13.986.938*100/24.026.293)-1].
A partir desse exemplo
podemos extrair que não basta analisar de maneira individual uma conta e tirar
uma conclusão, mas sim analisar o todo. Portanto, poderíamos analisar “horizontalmente”
todos os itens do balanço patrimonial para ter uma melhor percepção das
movimentações. Perceba que se o valor base for pequeno é possível que pequenas
variações monetárias geram um percentual elevado.
Reclassificações do não
circulante para o circulante podem impactar a análise também. Esse tipo de
operação ocorre usualmente para dívidas. Quando a data do pagamento dessa
dívida se aproxima, o saldo que constava no não circulante é reclassificado
para o curto prazo. Isso deve ser considerado na análise horizontal para que
conclusões equivocadas não sejam realizadas.
Agora vamos a parte da
dívida. Para isso, iremos analisar as demonstrações do Paraná. Os salários e
ordenados a pagar tiveram um aumento de 37% [(9.364.000*100/6.821.000)-1]. Por
outro lado, as provisões para contingências reduziram substancialmente em
termos monetários (-14.905.000) e percentualmente o efeito não foi tão grande (15%)
em função do valor base ser expressivo. Esse aspecto deve ser considerado na
análise horizontal. Por vezes, a redução monetária será relevante para o clube,
mas em função da magnitude do valor base o reflexo em termos percentuais será baixo.
O inverso também é verdadeiro, isto é, pode ser que o reflexo em termos
percentuais seja grande, mas não mude quase nada em termos monetários. Por
isso, para além do cálculo dos percentuais, é importante ver o reflexo em
termos monetários e conectar com possíveis reclassificações do não circulante
para o não circulante. Algumas vezes, não conseguiremos fazer isso com as
informações que nós, usuários externos, possuímos. O usuário interno, no nosso
caso o gestor do clube, terá mais informações do que aquelas divulgadas no
site. Mas com as informações que possuímos podemos elaborar algumas conclusões.
Análise
Horizontal na Demonstração do Resultado
Os mesmos preceitos para
análise horizontal no balanço continuam relevantes na demonstração do
resultado. Analisaremos as receitas e despesas dos dois clubes de maneira
geral. No Paraná, a queda para a segunda divisão resultou numa redução de 26
milhões reais ou 55% em termos de receitas. Para o Goiás, o acesso resultou em aumento
de 15 milhões ou 20% em termos de receitas.
Em termos de despesas.
Para o Goiás, o acesso resultou em aumento de 18 milhões de reais ou 41% em
termos de custos com futebol. Já para o Paraná, a queda para a segunda divisão
resultou numa redução de 25 milhões reais ou 56% em termos de custos com
futebol.
Destaca-se que aqui o
objetivo não foi analisar com profundidade as receitas do Goiás e do Paraná nem
induzir a conclusão que isso se refletiria para outros clubes e outros
períodos. Outros fatores como venda de atletas, por exemplo, podem influenciar
esse resultado.
Conclusão
Destaca-se que a análise
horizontal em conjunto com a análise vertical das demonstrações pode provocar
reflexões interessantes para quem as analisa. Pode-se dizer que elas apontam
alguns indícios, mas deve-se ter bastante parcimônia com as análises. Por
exemplo, por vezes o percentual é extremamente elevado para uma variação ocorrida,
mas não possui reflexo de igual significância em termos reais. O contrário
também é verdadeiro, é possível que por meio da variação percentual não seja observável
o efeito monetário ocorrido.
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